sobre a árvore
eu não tenho mais que dois
troncos que me enfarpelam
a rima
tenho se sou eu
se não
nem isso
cavidades que de alma
obliqua
dizem ser metáfora
isso sim
preocupa-me de facto
mas actualmente
tudo o que eu suponho
não passa de pura
lenta
resina
enfim
nasço
ao lado da casa escura
num grande hipotético mistério
com sombra
e mole escrita num trago
e diz a vizinha que não falo
como outrora
enquanto a secura se vai aproximando
e me caiem as folhas
num carpido poético
dizem as crianças que eu choro
durante a noite
a tarde
e eu pergunto porque me olhas
e me desfolhas num simétrico modo
de leitura surda
sou apenas árvore
ou armação literalmente corpórea
e se me olham eu digo seda
e vivo suave
nesta árvore absurda
8 de maio de 2011
7 de maio de 2011
o sémen
aqui permaneço
entre a sinopse das palavras
de murmúrios erguido
pondo em faces platónicas
vulcões
frases criadas
raramente promessas
mas fundas
ainda pérolas
nas curvaturas da alma
mas de nada emancipada
a mão que se me volteja
imperatriz enfim
pele minha
osso
ferro ou mesmo barro
folhas de jasmim que eu
trinco
já nem pedaços de mim
são usufruto
são outros
que na minha garganta pelejam
as fricções ficcionistas
desta vida
ah qual vida qual mal
me entregam aos lábios as lavas
para que eu fale
fale para elas e não para quem sou
que na minha fome me sustento
de escárnios e epitáfios de Florbela
mesmo sendo eu
pobre
poente de cuspo sobre o mar
ou rasto de coisas outras
no desfeito inverno
vou colhendo as ervas
e engolindo as trovas e as mandíbulas
já nem se me sentem
defronte ao espelho estilhaçadas
deixa lá
são outros que me sofrem
quando eu ando sozinho
e calado
ouvindo o porquê
estigmatizado do silêncio
espiritualmente puro embrionário
dessas palavras no final
tambor de águas
luminosas
entre a sinopse das palavras
de murmúrios erguido
pondo em faces platónicas
vulcões
frases criadas
raramente promessas
mas fundas
ainda pérolas
nas curvaturas da alma
mas de nada emancipada
a mão que se me volteja
imperatriz enfim
pele minha
osso
ferro ou mesmo barro
folhas de jasmim que eu
trinco
já nem pedaços de mim
são usufruto
são outros
que na minha garganta pelejam
as fricções ficcionistas
desta vida
ah qual vida qual mal
me entregam aos lábios as lavas
para que eu fale
fale para elas e não para quem sou
que na minha fome me sustento
de escárnios e epitáfios de Florbela
mesmo sendo eu
pobre
poente de cuspo sobre o mar
ou rasto de coisas outras
no desfeito inverno
vou colhendo as ervas
e engolindo as trovas e as mandíbulas
já nem se me sentem
defronte ao espelho estilhaçadas
deixa lá
são outros que me sofrem
quando eu ando sozinho
e calado
ouvindo o porquê
estigmatizado do silêncio
espiritualmente puro embrionário
dessas palavras no final
tambor de águas
luminosas
28 de abril de 2011
os pardais
nunca me encontrei
entre os lençóis
depois de ver o mar
e limpar os sonhos
todos os dias é assim
abro o frigorifico
ensonado
e escuto os pardais
lá fora
deve haver um segundo
entre a manteiga
e os meus olhos
em que eu andarei
vivo ainda
pelos meus passos
de pantufa e de poesia
mas eu nunca me encontrei
nem mesmo quando mastigo o pão
às segundas feiras
olhando a janela
e os pardais de merda cantando
canções de vitória
só eles sabem onde eu moro
entre os lençóis
depois de ver o mar
e limpar os sonhos
todos os dias é assim
abro o frigorifico
ensonado
e escuto os pardais
lá fora
deve haver um segundo
entre a manteiga
e os meus olhos
em que eu andarei
vivo ainda
pelos meus passos
de pantufa e de poesia
mas eu nunca me encontrei
nem mesmo quando mastigo o pão
às segundas feiras
olhando a janela
e os pardais de merda cantando
canções de vitória
só eles sabem onde eu moro
a água
gosto da água
que fura as paredes do pensamento
e nas tuas mãos cria sede
os meninos ficam lá em baixo
dançando
esperando o teu ventre
e a chuva
as tuas pernas tremem
enquanto á janela
espias os pássaros
inquietos
que se recolhem
á espera da manhã
seguinte
enquanto a água rasga o solo
em silêncio
e vai afundando o teu corpo
que fura as paredes do pensamento
e nas tuas mãos cria sede
os meninos ficam lá em baixo
dançando
esperando o teu ventre
e a chuva
as tuas pernas tremem
enquanto á janela
espias os pássaros
inquietos
que se recolhem
á espera da manhã
seguinte
enquanto a água rasga o solo
em silêncio
e vai afundando o teu corpo
27 de abril de 2011
a criança
aqui me encontrei de súbito no ruído
no chão a decifrar as irregularidades
da palavra
o poema tornou-se uma locomotiva
nas minhas manias
mãos que teimo serem minhas
onde conduzo a linguagem
e ainda imagino
o mistério do olhar
no vidro
o passageiro vendo a paisagem
dissipar-se
vendo de cima
reinventei outro em mim
enquanto me levavam no tempo
entre os braços
e a noite deixava a casa
silenciosa no meu corpo aberto
coberto de sonhos
e brinquedos
não larguei a locomotiva
e chorei por água mais água
até que pela manhã
pela luz
pelas frinchas do tempo
da porta entreaberta
me pudessem observar
saltando
na bagunça
das frases lançadas ao ar
em fábulas incompreendidas
de bonecos e emoções
restos de bolacha e tristeza
e talvez me tenham encontrado
de facto
conduzindo a locomotiva
voltando para a cama
com palavras
e sono
com a esperança
que organizassem o mundo
depois
no chão a decifrar as irregularidades
da palavra
o poema tornou-se uma locomotiva
nas minhas manias
mãos que teimo serem minhas
onde conduzo a linguagem
e ainda imagino
o mistério do olhar
no vidro
o passageiro vendo a paisagem
dissipar-se
vendo de cima
reinventei outro em mim
enquanto me levavam no tempo
entre os braços
e a noite deixava a casa
silenciosa no meu corpo aberto
coberto de sonhos
e brinquedos
não larguei a locomotiva
e chorei por água mais água
até que pela manhã
pela luz
pelas frinchas do tempo
da porta entreaberta
me pudessem observar
saltando
na bagunça
das frases lançadas ao ar
em fábulas incompreendidas
de bonecos e emoções
restos de bolacha e tristeza
e talvez me tenham encontrado
de facto
conduzindo a locomotiva
voltando para a cama
com palavras
e sono
com a esperança
que organizassem o mundo
depois
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