8 de maio de 2011

a árvore

sobre a árvore
eu não tenho mais que dois
troncos que me enfarpelam
a rima

tenho se sou eu
se não
nem isso

cavidades que de alma
obliqua
dizem ser metáfora

isso sim
preocupa-me de facto

mas actualmente
tudo o que eu suponho
não passa de pura
lenta
resina
enfim

nasço
ao lado da casa escura
num grande hipotético mistério
com sombra
e mole escrita num trago

e diz a vizinha que não falo
como outrora
enquanto a secura se vai aproximando
e me caiem as folhas
num carpido poético

dizem as crianças que eu choro
durante a noite
a tarde
e eu pergunto porque me olhas
e me desfolhas num simétrico modo
de leitura surda

sou apenas árvore
ou armação literalmente corpórea

e se me olham eu digo seda
e vivo suave
nesta árvore absurda

Sem comentários:

Enviar um comentário