sobre a árvore
eu não tenho mais que dois
troncos que me enfarpelam
a rima
tenho se sou eu
se não
nem isso
cavidades que de alma
obliqua
dizem ser metáfora
isso sim
preocupa-me de facto
mas actualmente
tudo o que eu suponho
não passa de pura
lenta
resina
enfim
nasço
ao lado da casa escura
num grande hipotético mistério
com sombra
e mole escrita num trago
e diz a vizinha que não falo
como outrora
enquanto a secura se vai aproximando
e me caiem as folhas
num carpido poético
dizem as crianças que eu choro
durante a noite
a tarde
e eu pergunto porque me olhas
e me desfolhas num simétrico modo
de leitura surda
sou apenas árvore
ou armação literalmente corpórea
e se me olham eu digo seda
e vivo suave
nesta árvore absurda
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