nunca me encontrei
entre os lençóis
depois de ver o mar
e limpar os sonhos
todos os dias é assim
abro o frigorifico
ensonado
e escuto os pardais
lá fora
deve haver um segundo
entre a manteiga
e os meus olhos
em que eu andarei
vivo ainda
pelos meus passos
de pantufa e de poesia
mas eu nunca me encontrei
nem mesmo quando mastigo o pão
às segundas feiras
olhando a janela
e os pardais de merda cantando
canções de vitória
só eles sabem onde eu moro
28 de abril de 2011
a água
gosto da água
que fura as paredes do pensamento
e nas tuas mãos cria sede
os meninos ficam lá em baixo
dançando
esperando o teu ventre
e a chuva
as tuas pernas tremem
enquanto á janela
espias os pássaros
inquietos
que se recolhem
á espera da manhã
seguinte
enquanto a água rasga o solo
em silêncio
e vai afundando o teu corpo
que fura as paredes do pensamento
e nas tuas mãos cria sede
os meninos ficam lá em baixo
dançando
esperando o teu ventre
e a chuva
as tuas pernas tremem
enquanto á janela
espias os pássaros
inquietos
que se recolhem
á espera da manhã
seguinte
enquanto a água rasga o solo
em silêncio
e vai afundando o teu corpo
27 de abril de 2011
a criança
aqui me encontrei de súbito no ruído
no chão a decifrar as irregularidades
da palavra
o poema tornou-se uma locomotiva
nas minhas manias
mãos que teimo serem minhas
onde conduzo a linguagem
e ainda imagino
o mistério do olhar
no vidro
o passageiro vendo a paisagem
dissipar-se
vendo de cima
reinventei outro em mim
enquanto me levavam no tempo
entre os braços
e a noite deixava a casa
silenciosa no meu corpo aberto
coberto de sonhos
e brinquedos
não larguei a locomotiva
e chorei por água mais água
até que pela manhã
pela luz
pelas frinchas do tempo
da porta entreaberta
me pudessem observar
saltando
na bagunça
das frases lançadas ao ar
em fábulas incompreendidas
de bonecos e emoções
restos de bolacha e tristeza
e talvez me tenham encontrado
de facto
conduzindo a locomotiva
voltando para a cama
com palavras
e sono
com a esperança
que organizassem o mundo
depois
no chão a decifrar as irregularidades
da palavra
o poema tornou-se uma locomotiva
nas minhas manias
mãos que teimo serem minhas
onde conduzo a linguagem
e ainda imagino
o mistério do olhar
no vidro
o passageiro vendo a paisagem
dissipar-se
vendo de cima
reinventei outro em mim
enquanto me levavam no tempo
entre os braços
e a noite deixava a casa
silenciosa no meu corpo aberto
coberto de sonhos
e brinquedos
não larguei a locomotiva
e chorei por água mais água
até que pela manhã
pela luz
pelas frinchas do tempo
da porta entreaberta
me pudessem observar
saltando
na bagunça
das frases lançadas ao ar
em fábulas incompreendidas
de bonecos e emoções
restos de bolacha e tristeza
e talvez me tenham encontrado
de facto
conduzindo a locomotiva
voltando para a cama
com palavras
e sono
com a esperança
que organizassem o mundo
depois
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