27 de abril de 2011

a criança

aqui me encontrei de súbito no ruído
no chão a decifrar as irregularidades
da palavra

o poema tornou-se uma locomotiva
nas minhas manias
mãos que teimo serem minhas
onde conduzo a linguagem
e ainda imagino
o mistério do olhar
no vidro
o passageiro vendo a paisagem
dissipar-se

vendo de cima
reinventei outro em mim
enquanto me levavam no tempo
entre os braços
e a noite deixava a casa
silenciosa no meu corpo aberto
coberto de sonhos
e brinquedos

não larguei a locomotiva
e chorei por água mais água
até que pela manhã
pela luz
pelas frinchas do tempo
da porta entreaberta
me pudessem observar
saltando
na bagunça

das frases lançadas ao ar
em fábulas incompreendidas
de bonecos e emoções
restos de bolacha e tristeza

e talvez me tenham encontrado
de facto
conduzindo a locomotiva
voltando para a cama
com palavras
e sono

com a esperança
que organizassem o mundo
depois

Sem comentários:

Enviar um comentário